Sensor aranha: Os medidores de poluição com oito patas

Você sabia que aranhas podem ajudar na busca pela poluição? Veja como a seguir.



Fonte: http://www.thewire.com/national/2013/03/half-all-us-rivers-are-too-polluted-our-health/63579/

Enquanto as aranhas comem, seus corpos acumulam alguns dos componentes químicos que poluem o meio ambiente. Ao medirem o que contamina os seus corpos, os cientistas podem descobrir os tipos, locais, concentrações - até mesmo os possíveis riscos - dos poluentes da água. O estudo dessas aranhas pode até fornecer melhor resultados do que o teste feito diretamente de um rio poluído, afirmam os pesquisadores. Os especialistas nesse assunto reportaram esses experimentos no encontro anual de 2014 da Sociedade de Toxicologia Ambiental e Química (Society of Environmental Toxicologyand Chemistry, em inglês).

Os produtos químicos no estudo são chamados de bifenilas policloradas, ou PCBs na sua sigla em inglês. Estas substâncias são bastante inofensivas para insetos e aranhas, mas em pessoas podem causar sérios problemas. Elas são capazes de interferir no nosso sistema imunológico, reprodutivo e nervoso. Os Estados Unidos proibiram os PCBs em 1979 mas, antes disso, estes produtos químicos eram amplamente utilizado em plásticos, tintas e equipamentos elétricos.



Fonte: http://atividadesemacanosiniciais.blogspot.com.br/2014/03/tirinha-maluquinho-e-carol.html

Os PCBs têm importantes propriedades físico-químicas, como a alta constante dielétrica e elevada estabilidade térmica, o que favoreceu, durante muitos anos, seu uso por diversos setores industriais, como em fluidos dielétricos em capacitores e transformadores elétricos, turbinas de transmissão de gás, fluidos hidráulicos, resinas plastificantes, adesivos, sistemas de transferência de calor, aditivo antichama, óleos de corte e lubrificantes. O comércio, produção e uso de PCB no Brasil é proibido desde 1981.
A Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, da qual o Brasil é signatário, restringe severamente a utilização das PCB e determina a adoção de medidas para reduzir ou eliminar a sua liberação não intencional.

Mas os PCBs continuam a ser um grave problema de poluição. Os compostos persistem na lama ao longo do fundo de muitos rios norte-americanos, lagos e outros cursos de água.

"Esse é o grande desafio", explica Upal Ghosh, engenheiro ambiental da Universidade de Maryland, Baltimore County. "Se levarmos em conta o que esta somente nos sedimentos, não é possível dizer exatamente qual o dano ", observa ele, já que eles podem ficar depositados ou entrar na cadeia alimentar. Descobrir o quanto dos PCBs é absorvido em organismos que servem de alimento é fundamental para entender os riscos que esses produtos químicos representam para a vida selvagem e as pessoas.

É por isso que as aranhas podem ser tão úteis. Mosquitos e outros insetos podem pegar o PCB da lama dos rios durante os primeiros estágios de suas vidas, quando eles passam o tempo na água, e então as aranhas, mais tarde, irão ingerir os PCBs ao se alimentar desses insetos.



Fonte:http://www.usgs.gov/envirohealth/geohealth/v10_n01.html

Para aranhas que habitam nas margens de rios, cada refeição de inseto pode subir a sua acumulação de PCBs. Este processo é chamado biomagnificação. Os PCBs podem até não prejudicar as aranhas, mas qualquer coisa que se alimentar delas pode, por sua vez, absorver os produtos químicos e levá-los até a cadeia alimentar, para as aves, anfíbios ou os predadores que comem esses animais. Se os cientistas chegarem às aranhas em primeiro lugar, eles poderão medir sua carga poluidora para aprender mais sobre o que está poluindo um determinado rio.

E isso é exatamente o que a equipe de pesquisadores liderada por David Walters fez. Walters é um ecologista do Serviço Geológico dos EUA, em Fort Collins, Colorado. Entre 2009 e 2013, sua equipe coletou quase 10.000 aranhas da família Tetragnathidae. Estes animais de oito patas estavam vivendo ao longo dos rios Ottawa, Manistique e Ashtabula, todos os três que possuem fluxo para os Grandes Lagos da América do Norte.



Aranha do tipo “Orb Weaver”, investigada por Walters e colaboradores.
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Orb_weaver_spider_day_web03.jpg



Aranha do tipo “Long Jawed”, investigada por Walters e colaboradores.
Fonte: http://kaweahoaks.com/html/tetragnatha_elongata.htm

A equipe mediu os poluentes transportados por cinco a vinte aranhas, em cada seção, ao longo dos trechos dos rios. Eles selecionaram locais notoriamente poluídos com PCBs e outras substâncias químicas. Para cada local, os peritos identificaram o tipo de PCB nas aranhas e os montantes presentes nestes aracnídeos. A equipe também calculou o risco que aquelas aranhas poluídas poderiam representar para os predadores nas proximidades. Usar aranhas para desvendar essa ameaça, diz Ghosh, é intrigante.

Os níveis de PCBs nas duas espécies de aranhas investigadas no experimento foram altos o suficiente para constituir um risco para outros animais selvagens, incluindo aves, diz Walters. Estes achados podem explicar, em parte, o declínio em algumas populações de aves, diz ele. Os níveis de PCBs também apresentaram alterações em alguns peixes, o que pode representar riscos à saúde para as pessoas. Placas posicionadas ao longo dos três rios recomendam as pessoas a evitar comer certas espécies de peixes que vivem lá.



Local com pesca proibida devido à contaminação por PCBs Fonte: http://www.sott.net/article/160416-Solutia-sued-for-alleged-PCB-pollution

Walters espera que o monitoramento das aranhas possa ajudar a manter o controle sobre áreas poluídas. Ele também pode acompanhar o quão bem o trabalho de limpeza dos rios funciona. A idéia foi tão bem aceita que outros pesquisadores nos Estados Unidos já estão começando a fazer exatamente isso.

Para saber mais, acesse:
1. Student Science, acessado em janeiro de 2015: https://student.societyforscience.org/article/spidey-sense-eight-legged-pollution-monitors
2. Penteado e Vaz, acessado em janeiro de 2015: http://www.sbq.org.br/publicacoes/quimicanova/qnol/2001/vol24n3/15.pdf
3. http://www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/file/laboratorios/fit/bifenilas_policloradas.pdf

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