Anita D. Panek

Meu nome é Anita D. Panek,

sou natural da Cracóvia, Polônia. Cheguei ao Brasil, fugida da segunda guerra mundial, aos 10 anos. Desde o inicio meus estudos foram dirigidos para uma carreira internacional. Meu pai sentia na pele a dificuldade de ser formado em direito e não poder exercer a profissão no Brasil. Fui me especializando em línguas e quando tive que optar por uma profissão escolhi, Química, pois na época, as tinturarias no Rio de Janeiro nos pareceram precárias e poderiam, no futuro, constituir uma fonte de renda, além de tratar-se de uma carreira internacional.
Mas no fundo do coração eu me interessava pela química da vida. Meu sonho era fazer pesquisas em Bioquímica. Conhecer o ser vivo me fascinava! Decidi pelo vestibular da Escola Nacional de Química, da então Universidade do Brasil (hoje UFRJ) e iniciei meu curso de Química em 1951.
Nesta época, a situação financeira da minha família já tinha melhorado e pude me permitir o luxo de pensar em pesquisa já no 3o ano da faculdade, quando cursava a disciplina de Microbiologia Industrial e Tecnologia das Fermentações. Raymundo Moniz de Aragão era o catedrático destas disciplinas, figura de enorme importância na minha vida profissional. Foi ele quem me chamou, logo depois de formada, para ocupar uma vaga de auxiliar de ensino. Foi devido à insistência dele que me preparei para a Docência Livre, e foi ele, ainda, quem me colocou no Conselho de Pesquisas da Universidade, no qual permaneci por 24 anos, desfrutando da convivência de figuras ímpares do mundo intelectual.
Nossas pesquisas sempre visaram utilizar a célula de levedura como modelo para investigações, que pudessem ser extrapoladas para a célula humana. Assim foi, com o estudo dos efeitos nocivos dos radicais livres, e continua com as pesquisas sobre envelhecimento. Posso prever, para um futuro não distante, resultados importantes na utilização da célula de levedura, para desvendar mecanismos causadores de doenças neurodegenerativas.
Não posso deixar de mencionar que, durante mais de 20 anos, nosso laboratório publicou o maior numero de resultados sobre o papel da trealose na manutenção da vida. Trealose é um dissacarídio produzido pela levedura e armazenado por ela com fins de protegê-la contra estresses ambientais, tais como elevação de temperatura, desidratação, radicais livres, concentração de etanol. Este aspecto é de grande relevância na produção de bebidas aloólicas e do bioetanol. Entretanto, a partir de uma publicação nossa de 1986, a trealose foi utilizada, no mundo, para a preservação de células humanas em condições de temperatura e hidratação desfavoráveis, incluindo-se nesta observação, células sanguíneas para transfusões.
Aos estudantes e jovens profissionais vou repetir o que sempre recomendo: que trabalhem como se não necessitassem de dinheiro, que amem como se nunca tivessem passado por uma dor e que dancem, como se ninguém estivesse olhando. Parafraseando Proust eu diria que, a verdadeira viagem ao desconhecido não consiste na busca de novas terras, e sim em enxergar com novos olhos.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Departamento de Bioquímica.
Centro de Tecnologia, Instituto de Química - Bloco A, lab. 547, Ilha do Fundão
21949-900 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Telefone: (21) 25627735 Ramal: 021 Fax: (21) 25627735

Possui graduação em Química Industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1954) e pós-doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1962).
Atualmente é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Genética , com ênfase em Genética Molecular e de Microorganismos.É Comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico, honraria concedida pelo Presidente da República do Brasil, em novembro de 1996.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *