Marília Oliveira Fonseca Goulart

Meu nome é Marília Oliveira Fonseca Goulart.

Sou farmacêutica e doutora em Química pela Universidade Federal de Minas Gerais. Trabalho no Instituto de Química e Biotecnologia da Universidade Federal de Alagoas, em Maceió.

Muitos viram Avatar, não é mesmo? Lá eles usaram o termo eletroquímica, indicando a comunicação entre os seres vivos, em todos os reinos. Na realidade, a comunicação mais eficiente entre os reinos da natureza é feita quimicamente, por meio de substâncias químicas, voláteis ou não, que desempenham papéis principais em processos vitais. Os mais importantes deles envolvem o que denominamos Transferência de Elétrons. O que significa isto? De uma forma corriqueira significa dar choques na molécula. Como em nós mesmos, o choque causa mudanças.

Um choque elétrico “educado”, controlado, nos provoca reações e muitas vezes reações úteis. O mesmo acontece com as substâncias químicas. Vocês sabem que, desde o início da vida, essas reações acontecem? A fonte de energia vinha dos relâmpagos e as moléculas primordiais para a vida começaram a ser sintetizadas, em reações, que denominamos de redução (entrada de elétrons) e oxidação (saída de elétrons). Inclusive, a Química do Amor, que é uma realidade e não fantasia, tem base nessas reações. Cansamos de ouvir a expressão: “tem química nessa relação” e é verdade. São os compostos químicos que atuam sobre o nosso corpo – sobre o nosso cérebro, em particular – e nos transmitem as sensações e comportamentos que associamos ao amor.

Como discutido pela antropóloga Helen Fisher, são três as fases do amor. A primeira delas é a fase do desejo, desencadeada pelos hormônios femininos e masculinos, respectivamente, estrogênio e testosterona. A segunda é a fase da atração: as mãos suam, a respiração falha, o pensamento turva e outras “cositas más”. Outro conjunto de compostos químicos atua – os neurotransmissores – que no organismo humano, são oxidados, isto é, perdem elétrons e depois reduzidos, para retomar suas funções, entre outras reações. A terceira fase – a da ligação – ou o amor sóbrio, também tem química associada: dois hormônios. Legal!! Estudem química e conhecerão mais sobre isto!

Bem, eu não estudo a bioquímica do amor, mas a transformação eletroquímica de algumas dessas maravilhosas substâncias. Essa área é conhecida como Bioeletroquímica ou Eletroquímica Orgânica. Junto com o meu grupo de pesquisa, associamos as reações de transferência de elétrons, que têm características próprias, com a atividade anti-câncer, anti-doenças tropicais, como a malária, a Doença de Chagas e a Leishmaniose, doenças tropicais, que poucos estudam, por não trazerem recompensas financeiras (claro, falando superficialmente). Há possibilidade de que o conhecimento alcançado no laboratório, com a obtenção dos dados eletroquímicos, possa ser usado no planejamento de um novo fármaco contra essas doenças. Adicionalmente, fármacos antigos podem ser re-avaliados para se encontrar novos usos.

O oxigênio, indispensável à nossa vida, também sofre reações de Transferência de Elétrons - reduções – e gera o que, comumente, chamamos de radicais livres – espécies com elétrons isolados e muito reativos. Eles causam o Mal e o Bem. São bandidos ou mocinhos, dependendo da situação. Quando em grande quantidade e em sítios específicos, causam o que conhecemos como Estresse Oxidativo. É importante observar que na Natureza, nada é definitivamente Bom, nem Mal. “Depende”. O importante é o equilíbrio, que denominamos, no caso do corpo humano, homeostase. Estudamos também o Estresse Oxidativo, seja na perspectiva de identificar prováveis fármacos (no lado do Bem) ou de combatê-los (quando Bandidos, mudando a estrutura das substâncias e tornando-as incapacitadas para realizar suas funções). Aí, entram os compostos antioxidantes, que agem também via reações de Transferência de Elétrons. Investigamos essas propriedades, por meio de uma série de métodos, sintetizamos compostos, os analisamos, via métodos eletroquímicos, em dispositivos, chamados sensores. Nessa área, pesquisamos resíduos, como, de abacaxi, de acerola e outros; estudamos mel e extratos vegetais e constatamos que vários deles, desperdiçados e lançados na natureza, podem ser re-aproveitados. Aí entra uma das áreas mais importantes da química: a descoberta de novos usos para rejeitos industriais (de alimentos, principalmente), com vantagens ambientais.

Para não cansá-los muito, termino aqui, desejando-lhes muitas felicidades e muita vontade de aprender. Se quiserem conversar comigo ou, em caso de desejarem ler mais sobre o assunto, escrevam pra mim: mofg@qui.ufa.br; marilia.goulart@pq.cnpq.br. Terei um enorme prazer em conversar com vocês.

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